Eu, máquina

 

Com a licença de quem pergunta o impossível, apresento minhas primeiras anotações neste blog, sobre o advento das novas tecnologias de comunicação e sua relevância para a evolução social do ser humano.

Uma das grandes esfinges de nossos tempos e suficiente para mais do que um já resignado post, o surgimento de novas mídias trouxe consigo questionamentos e subjetividades infinitas. Muito além das implicações técnicas, aflige ao pensador comum a dor da aparente ruptura evolutiva que acompanha as sociedades marcadas por estas e todas as novidades e invenções.

O tema foi abordado por Caio Túlio Costa em “Por que a nova mídia é revolucionária” [1]. Em diversos exemplos, o autor dá boas vindas aos novos valores, calcados em interação e inter-relacionamento, e oferece sua visão sobre a dificuldade das empresas tradicionais de comunicação, fundadas nos meios impressos e na televisão, em lidar com a crescente relevância econômica de plataformas como a internet, o celular e os videogames.

Algumas idéias merecem destaque. Primeiro, a crítica à velha mídia, que em suas tardias reações e tentativas de inserção demonstra desconhecimento sobre as novas plataformas e seus conceitos. Como exemplo, a transposição de conteúdos praticada por grande parte da imprensa em suas tentativas de migração online.

Outro aspecto abordado é a inédita possibilidade de intervenção e geração de conteúdo por populações pela via das novas mídias. Aos exemplos mencionados pelo autor, dos ataques às estações de trem em Madrid e à cidade de São Paulo, adiciono a recente utilização do twitter para relatar manifestações no Irã e driblar a censura sobre os meios de imprensa tradicionais.

Momentos raros em que as inovações tecnológicas aproximam as pessoas de suas necessidades reais, pois freqüentemente glorificamos o surgimento de ferramentas para problemas que não existiam antes delas, e condenamos qualquer resistência às alcunhas maniqueístas do medo e da caduquice.

O temor do novo e a sua manipulação (do temor e do novo) para intervir no meio são também alguns dos temas de Metrópolis, de 1927, escrito e dirigido pelo alemão Fritz Lang.

De longe, a situação descrita no filme que dá nome ao blog parece denotar uma evolução social, uma digestão forçada de novidades tecnicistas seguida de progresso nas relações. Na verdade, revoltaram-se os trabalhadores contra uma máquina, não contra o sistema baseado nelas. Dele, seguem coadjuvantes explícitos, explorados e submissos. Apenas uma pequena parcela de um enorme problema foi identificada, quanto mais atacada e resolvida.

Uma conclusão para tal confluência textual entre Caio Túlio Costa e Fritz Lang poderia facilmente se resumir a uma afirmação como “soluções absolutas como um messias podem ocultar robôs malucos e manutenção indevida de sistemas exploratórios econômicos e, conseqüentemente, sociais e políticos”, mas não. Na realidade, e até para o próprio bem dela, o que fica deste texto, à semelhança do texto e do filme de que se trata, é uma pergunta, seguida de um convite para a reflexão mais profunda.

Até que ponto nós estaremos a exercer, democrática e livremente, as novas faculdades? Não estaríamos a abordar máquinas e fantoches, impressionados que estamos com suas falsas (portanto assustadoras) feições humanóides, ao invés de requisitarmos a nossos embates fatias maiores da filosofia?

metropolis 1 - machine woman


[1] COSTA, Caio Túlio de. Por que a nova mídia é revolucionária. Publicado na revista Líbero nº 18, dezembro de 2006, páginas 19 a 30.

 

Uma resposta to “Eu, máquina”

  1. Mariana Says:

    É importante lembrar que essas novas mídias realmente ampliam a atuação dos indivíduos, que deixam de ser meros receptores, mas não podemos esquecer que esse processo ainda está repleto de entraves clássicos como o gatekeeper, que limita a participação do leitor/autor, e também a moderação de comentários na maioria dos jornais com versão online de hoje em dia.

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