Internet: uma nova mídia, um novo poder.

 Ao contrário dos outros textos do blog, este post pretende abordar a questão Mídia e Poder sobre uma nova ótica. Não me interessa aqui relacionar o poder exercido pela mídia tradicional, entenda-se “velha mídia”, sobre a sociedade de massa. A crítica frankfurtiana sobre a “indústria cultural”, que foi muito bem abordada neste espaço, não perde sua legitimidade quando afirmo o potencial libertador do mais novo meio de comunicação que temos hoje: a Internet.

Me aproveito da palavra complexux¹, que tão bem usamos para adjetivar Mídia, e teço aqui mais uma parte da interpretação sobre o tema, tendo como foco a Internet. Para isso, valho-me dos pontos abordados por Manuel Castells no artigo “Internet e sociedade em rede”, apresentado em outubro de 2000, na Conferência inaugural do Programa de Doutorado em Sociedade da Informação e Conhecimento da Universitat Oberta de Catalunya, em Barcelona.

Castells fala do surgimento da Internet e ressalta que sua origem está intimamente relacionada com a cultura de movimentos libertários e contestatórios, que buscavam na Internet um instrumento de liberação e de autonomia em relação ao Estado e às grandes empresas. (CASTELLS, 2004, p.258) Além disso, o autor ressalta que não foram as grandes empresas ou qualquer interesse econômico que impulsionaram o aparecimento da rede. Ao contrário, os produtores e desenvolvedores dessa tecnologia foram os próprios usuários, num regime informal e colaborativo de autogestão, com intervenção governamental mínima.

Como bem defendeu Castells, a internet é um “instrumento de comunicação livre” (p.262) e, considerando isso, ela pode ser vista como um meio potencialmente libertador se comparada às velhas mídias de massa. Lembro aqui que, quando falo em potencialidade, não estou sentenciando a liberdade dentro da comunicação e o fim dos mass media, já que isso não depende do meio, mas sim de seus detentores e de como ele é utilizado. O próprio Manuel Castells afirma que “a sociedade se apropria das tecnologias, adaptando-as ao que a própria sociedade faz” (p.265). E, essa afirmação se confirma quando vemos hoje a ampla utilização da Internet para fins de publicidade e a repetição do modelo jornalístico unilateral que se dá nesse novo meio.

Apesar disso, não podemos discordar do fato de que, como afirma Manual Castells, a Internet permite que a ação individual e localizada tenha alcance global. Segundo o autor, é possível que o indivíduo se organize em grupos com interesses comuns pela Internet, como fazem a maioria das ONGs de hoje em dia. Enfim, a Internet tem o potencial de dar voz ao indivíduo que por muito tempo foi a ponta passiva de uma comunicação de massa, mas, obviamente, ele só pode se libertar de uma cultura “panis et circensis” por sua própria postura, que deve ser consciente e libertadora, coisa pouco comum nos dias de hoje.

Proponho aqui uma análise do poder dessa nova mídia, não naquilo que hoje lhe cabe, mas sim naquilo que lhe é potencial. Ao contrário do futuro apocalíptico que é apontado em Metrópolis, onde a máquina engole os homens e rouba-lhes a essência da vida (ver foto), poderia esse novo meio, fruto do mesmo desenvolvimento tecnológico que possibilitou o surgimento das fábricas e, com elas, do trabalho compulsório, levar o homem a um novo padrão de relacionamento social, econômico e político mais livre? 

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¹ “aquilo que é tecido junto”

 CASTELLS, Manuel. Internet e sociedade em rede. In: MORAES, Denis de (Org.). Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 257 – 287.

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